Blog
Growth Mindset
- 27 de abril de 2020
- Por: Flávia Lippi
- Categoria: Dicas Trabalho e carreira
Eu sou fã do Homem-Aranha. Aquele cara meio tímido, que fica sozinho nos lugares, meio nerd. E aí, estava conversando com amigos e comentei: o que é ter uma mentalidade de crescimento? Você lembra daquele cena do filme na qual ele está testando seus poderes e a crush do Peter Parker entra na cafeteria e escorrega, e aí ele pega ela no colo antes dela cair e tudo que estava na bandeja ainda cai direitinho de volta? Tipo equilibrista máster…
Até coloquei o link aqui se você quiser ver a cena. (https://youtu.be/VRpC9B22Vd4)
Pois é, esta cena foi rodada 156 vezes até dar certo. Preste atenção, 156 vezes.
O que isso quer dizer para você?
Bom, quer dizer muitas coisas. Para o ator, um desafio extraordinário – ele poderia desistir e pedir para colocarem outra cena ou um dublê. Para o diretor e toda a equipe, um desafio, a persistência e foco. Todos queriam que desse certo. Será? Talvez alguns ali estivessem fazendo por obrigação, mais levados pela mentalidade fixa.
Deixa eu te contar um pouco de ciência para que você entenda como tudo isso supostamente deve ter começado. Em 1921, Lewis Terman, um psicológico, estudioso e escritor, decidiu que iria estudar, com o máximo de atenção, os superdotados. Ele e sua equipe pesquisaram crianças geniais em escolas da Califórnia. As equipes testaram aproximadamente 250 mil estudantes dos níveis fundamental e médio e selecionaram 1.470 que tinham QI superior a 140. Entre os selecionados, alguns chegaram a 200. Os jovens gênios eram chamados de “termites” (cupins em Inglês, mas também uma derivação de Terman) pela equipe do psicólogo.
Durante anos, Terman acompanhou os gênios. “Eles foram rastreados e testados, medidos e analisados. Suas realizações acadêmicas foram anotadas; os casamentos, acompanhados; as doenças, tabuladas; a saúde psicológica, mapeada.” Tudo sobre eles era registrado e interpretado, e os selecionados eram orientados na escolha dos cursos universitários e empregos.
A pesquisa, que foi publicada como Estudos Genéricos de Gênios, mostrou que para Terman “nada num indivíduo é tão importante quanto o QI, exceto talvez a ética”.
Nesse processo, era isso que o pesquisador esperava dos gênios para o futuro: “Devemos esperar a produção de líderes que promovam a ciência, a arte, a política, a educação e o bem-estar social em geral”.
Contudo, não foi bem assim. O britânico Malcolm Gladwell, um repórter incrível, pesquisou bastante e publicou um livro sobre isso, o Outliers. Apesar do incentivo de Terman, nem todos os gênios obtiveram sucesso. Os fora de série, “outliers”, às vezes terminam a vida como pessoas comuns, ainda que mantivessem certo brilhantismo.
Gladwell entendeu que “a relação entre sucesso e QI só funciona até certo ponto. Depois que alguém alcança um QI em torno de 120, quaisquer pontos adicionais não parecem se converter em vantagem mensurável no mundo real. O QI de Langan é 30% mais alto do que o de Einstein. Mas isso não significa que Langan seja 30% mais inteligente do que ele”. Na verdade, “ambos são suficientemente inteligentes”.
Terman, pesquisador infatigável e sério, decepcionou-se, ao menos em parte, com seus gênios. Algumas dessas pessoas publicaram livros e artigos acadêmicos ou prosperaram nos negócios. No entanto, poucos daqueles gênios eram figuras de projeção nacional. Eles tendiam a ganhar um bom salário, mas não tão bom assim. A maioria seguiu profissões consideradas comuns, e um número surpreendente acabou em carreiras que até Terman considerou totais fracassos. Não havia um único vencedor do Prêmio Nobel naquele grupo de gênios exaustivamente selecionado. Na realidade, os pesquisadores de campo rejeitaram, entre os alunos do ensino fundamental, dois futuros prêmios Nobel —William Shockley e Luis Alvarez —, porque seus QIs não eram altos o suficiente.
Então, como pode ver, o QI não faria diferença nenhuma na minha vida ou na sua.
Gladwell, no lugar do teste de QI, sugere que as escolas façam o teste de divergência, que ele define da seguinte maneira: “o teste da divergência pede que você use a imaginação e leve a mente ao máximo de direções diferentes. Um teste dessa natureza não possui, obviamente, uma única resposta certa. O que ele busca é o número e a originalidade das respostas. E o que ele mede não é a inteligência analítica, mas um traço bem distinto. Algo bem mais próximo da criatividade”.
Cada dia, a humanidade parte para novas formas de trocar conhecimento e identificar novas inteligências, como a inteligência emocional e espiritual, a inteligência relacional, entre outras. Mas o que faz alguns terem a mentalidade fixa, ou seja, inteligências e habilidades inatas que não podem mudar nada, e outros a mentalidade de crescimento – aquela que a maioria das pessoas de sucesso têm? Eles acreditam que qualquer um pode adquirir novas habilidades e se desenvolver. Carol Dweck, pesquisadora e autora do livro Mindset, cunhou este termo e acredita que é importante valorizar o esforço.
Eu falo em permitir o erro. No mundo de hoje, errar é quase um crime. Particularmente, acredito que grande parte dessa desmistificação vem a partir do autoconhecimento. Sim. Quando você se conhece e sabe das suas limitações e fortalezas, é muito mais difícil as pessoas te manipularem ou decidirem qual o caminho melhor para a sua vida e carreira. Você já pensou, por exemplo, que o erro (que a sociedade tanto condena) é uma forma de experiência? Isso mesmo. Com as tentativas, chegar ao resultado que você espera é muito mais assertivo. O grande problema é que não fomos criados para errar, e boa parte da sociedade não sabe lidar com os erros ou enxergar motivações de crescimento.
Dessa forma, todo o processo criativo de uma pessoa é minado, e todas as possibilidades possíveis de alcançar objetivos propostos são anuladas.
Imagine você, quantas tentativas existem em cada etapa que saiu errada? E não estou sendo demagoga ou permissiva ao afirmar isso. Errar é o processo para o sucesso. São pequenos sucessos que testam suas ideias antes de alcançar o objetivo final. Erro é um sucesso com data marcada. Você tem ideia de quantos “não” uma criança recebe e que são desnecessários: “não venha brincar com essa bola aqui!”. E quantos “sim” proporcionalmente desnecessários ela também escuta? E isso vai ocorrendo durante toda a vida.
Isso mina a possibilidade de considerar o erro como estratégia e experimentação.
Por outro lado, pessoas que são educadas a acharem que a posição superior, o objeto de luxo e o local cravado no mapa são determinantes para o sucesso se tornam limitadas (e condicionadas) a pensarem o sucesso somente dessa forma. Assim, todas as tentativas serão barradas – até porque elas não querem ou não podem fracassar. E o resultado para a vida pessoal de quem não se permite frustrar pode vir em forma de doenças físicas, emocionais e comportamentais, impactando fortemente na perda de performance.
Sucesso não se trata de números de idealizações, títulos acadêmicos colecionados nas gavetas de casa ou patamar de cargo que a pessoa planejou. É muito mais (e precisa ser). Sucesso é bem mais amplo. Como a pessoa se olha, entende suas próprias vontades e sabe sobre aquilo que gera felicidade é o maior sucesso que alguém pode aspirar. Uma pessoa com esse entendimento alcançou a felicidade. Viu? É bem mais simples do que a grande maioria pensa, né? E é essa simplicidade que as pessoas precisam buscar num universo tão diverso como o atual. Entende?
É tão simples, que é tipo um par de óculos. Uma lente é a mentalidade fixa e a outra, mentalidade de crescimento. A gente usa as duas muitas vezes na vida, mas quem tem a mentalidade de crescimento usa mais esta lente que a outra. Tipo sombra e luz. Você precisa escolher em qual lado vai permanecer mais tempo.
Olha só, anote aí.
Mentalidade de crescimento – mais resistentes, superam mais situações desafiadoras e difíceis, aprendem com o fracasso, assumem riscos, preferem crescer que estagnar, vivem em estado de fluxo e transformação, sua identidade não é seu resultado, acreditam no processo de crescimento e aprendizado.
Mentalidade fixa – acreditam no talento e inteligência inatos, fracasso é um ataque pessoal, sabem tudo, desconhecer algo é sinônimo de fracasso, falhar é fracasso, preferem a estabilidade e a certeza, são moralistas, vivem de ilusão.
O que quero dizer com isso?
Imagine dois empresários: um tem a mentalidade de crescimento e outro tem a mentalidade fixa. Ambos estão nos estágios iniciais de sua jornada empreendedora. De repente, ambos encontram um obstáculo e são forçados a tomar uma decisão. Aquele com a mentalidade fixa vê a longa e árdua jornada à sua frente devido a um obstáculo na estrada. A jornada está no caminho do que importa para ela: o resultado. Ela acredita que ser empreendedor será fácil para aqueles que estão destinados a isso. Ela decide desistir.
Aquele com a mentalidade de crescimento vê a longa e árdua jornada à sua frente e sorri. A jornada é o caminho para ela; a jornada é o que importa. Assumindo o papel de estudante, ela aceita o longo e árduo caminho como professor. Ela permitirá ser modelada na pessoa que precisa se tornar para alcançar os resultados que ela deseja. Ela decide persistir.
Quando olhamos para esses dois exemplos, a maioria de nós concorda que o empreendedor com a mentalidade de crescimento tem uma compreensão maior da realidade. Sua decisão é mais verdadeira. Sabemos que as coisas levam tempo, esforço e estratégia para serem alcançadas, mas muitas vezes é difícil colocar esse tipo de pensamento na prática. Então, como podemos desenvolver a mentalidade de crescimento?
Fique ligado, que vamos falar disso nas próximas semanas.
Valeu!