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O que a biologia tem a ver com a felicidade no trabalho?
- 7 de fevereiro de 2023
- Por: Flávia Lippi
- Categoria: Trabalho e carreira
Os benefícios de pessoas que trabalham felizes são indiscutíveis – então porque muitas empresas não conseguem ter colaboradores mais felizes?
A questão da felicidade no trabalho não é nova e já vem sendo discutida há algum tempo, e com razão. De acordo com um estudo da empresa Gallup, empresas com funcionários felizes têm um índice 50% menor em acidentes de trabalho. Além de mais produtividade, colaboração, criatividade, inovação, saúde física e mental.
Um estudo da Harvard Business Review mostra que a felicidade impacta diretamente a produtividade, eficiência e inovação de uma empresa. A pesquisa revelou que colaboradores satisfeitos são 31% mais produtivos, 85% mais eficientes e 300% mais inovadores.
Na Dinamarca, em 2013, surgiu o CHO, Chief Happiness Officer, profissional dedicado à questão da felicidade dentro do ambiente de trabalho. A ideia por trás do cargo é a seguinte: da mesma maneira que existe o executivo de tomada de decisões (CEO), o responsável financeiro (CFO), e tantos outros executivos-chave na empresa, agora existiria também um profissional dedicado exclusivamente ao bem-estar das pessoas dentro da empresa.
Portanto, constata-se que existem investimentos, pesquisas realizadas e todo um campo de profissionais discutindo esse assunto.
Porém, a pergunta que permanece é: porque as empresas não tem sucesso na busca da felicidade?
Segundo Flávia Lippi, especialista em neurociência e comportamento, o que acontece, de modo geral, é que as empresas investem em apenas um aspecto da felicidade, ignorando outras frentes igualmente importantes.
Muitas organizações, por exemplo, oferecem escritórios abertos, despojados, dress codes casuais, alimentação saudável, entretenimento no local de trabalho e outros benefícios. Porém, estes aspectos estão relacionados a apenas um pilar da felicidade, a felicidade imediata dos prazeres cotidianos.
Portanto, falta o foco na felicidade genuína, aquela relacionada aos valores pessoais. Segundo outros cientistas, como o psicólogo Martin Seligman, da Universidade da Pensilvânia, esse é um dos pontos que traz felicidade a longo prazo na vida.
Na experiência de Flávia Lippi, essa parece ser a principal dificuldade enfrentada pelas empresas atualmente. Embora essas trabalhem em suas culturas seu propósito, missão, valores, esses aspectos nem sempre estão alinhados com os valores dos colaboradores dentro de suas empresas.
Flávia Lippi faz uma provocação ao leitor. Como líder de uma equipe, é importante observar se sua equipe está engajada e se relaciona com sentido aos projetos que estão desenvolvendo. Os desafios diários também são essenciais para o engajamento.
Sem esses aspectos, dificilmente há sentimento de pertencimento. Sem pertencimento, não há engajamento. Ao discutir felicidade nas empresas, é justamente esse aspecto que elude muitos gestores. Para pertencer, é preciso confiar.
A biologia da confiabilidade
A maior referência sobre esse assunto é o neurocientista Paul Zak, um pesquisador da Universidade de Claremont, nos Estados Unidos. O objetivo principal da pesquisa era descobrir maneiras de tornar as pessoas mais colaborativas. Se aprofundando nesse tema, ele chegou à conclusão que a felicidade, e os hormônios relacionados à felicidade, modulam grande parte dos nossos comportamentos.
No tangente à felicidade a longo prazo, talvez o componente biológico mais importante seja a ocitocina. Os pesquisadores analisaram que a ocitocina está muito ligada a todo tipo de interação social que forma laços afetivos entre as pessoas.
A ocitocina é produzida e liberada na nossa corrente sanguínea sempre que temos um estímulo social positivo, como encontrar os amigos, passar tempo com colegas de trabalho, familiares, e pessoas queridas.
As pesquisas do laboratório do Paul Zak mostram que a ocitocina está relacionada com a empatia e a vontade de ajudar outras pessoas. Um de seus experimentos mostra que existe uma correlação direta entre a ocitocina liberada na corrente sanguínea e a confiança entre as pessoas. O autor denomina esse fenômeno de biologia da confiabilidade.
Em outras palavras, é como se nosso próprio corpo e nosso cérebro incentivassem comportamentos colaborativos baseados na confiança mútua. Para pertencer, é preciso estar em um local onde se pode confiar uns nos outros.
Ser feliz e ter sentimentos de bem-estar protegem o nosso corpo de maneira literal, além da nossa saúde mental. A felicidade então faz parte do funcionamento biológico dos seres humanos.
Portanto, se alguém se sentir desconectado das pessoas, não colaborativo, estressado e esgotado, uma opção é observar suas relações e os locais por onde convive.
Afinal, essa pode ser a diferença entre a felicidade e uma vida regada a estresse.
Espetacular de linguagem de fácil entendimento e de um alcance e profundidade que me fez ver e perceber aquilo que era um entrave diante as atitudes e comportamentos que nunca tinha pensado em por em pratica.
Obrigada pelo feedback, Francisco!