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O que você está sentindo?
- 16 de dezembro de 2022
- Por: Flávia Lippi
- Categoria: Flávia Lippi Vida pessoal
As situações, as coisas das quais tenho vontade de reclamar, são um campo aberto para eu atuar
Me veio aqui a memória de um episódio de minha infância.
Era Natal e possivelmente a época mais feliz para as crianças, mas nem para todas. Morava em uma rua bonita de Belo Horizonte – aliás na infância, tudo deveria ser bonito.
Descobri nessa época que existiam crianças infelizes no Natal e que compaixão, empatia e solidariedade existem se somos direcionados a olhar o impacto que causamos nos outros seres deste mesmo planeta em que vivemos.
Eu devia ter uns 4 anos de idade e voltava para casa com minha mãe. Estávamos de carro e eu abraçava a minha boneca nova. A que acabara de ganhar do “Papai Noel”.
Perto de casa, sentada no meio fio, havia uma criança, um pouco mais velha que eu. Comecei a chorar dentro do carro e pedi para que a mamãe parasse o carro. Ela parou, sempre carinhosa e sempre atenta a meus sentimentos, me perguntou o que estava sentindo.
– Filha, o que você está sentindo? Mamãe pode te ajudar?
Eu, muito sentida, disse a ela.
– Mãe, o Papai Noel não passou na casa daquela menina. Eu vou dar a minha boneca para ela.
Mamãe, para ter certeza do que eu queria, me disse: filha, a sua boneca é nova, você ganhou hoje, é isso mesmo que você quer?
Imediatamente desci do carro, conduzida pelas mãos amorosas de mamãe, cheguei perto da menina e perguntei.
– Como você se chama?
Ela respondeu.
– Kênia, e você?
– Flávia. Você quer ser minha amiga?
Em um abraço apertado, criamos um laço que existe ainda hoje. Ela ganhou minha boneca, a convivência na minha casa, e eu, a oportunidade de conhecer a favela, as dores e alegrias de viver como e onde ela vivia. Se formou enfermeira incentivada pelo meu pai médico, criou uma família linda e me ajudou a compreender que dentro de mim já existia uma missão – a que, inclusive, me guia até hoje.
Li certa vez uma crônica da Jany Vargas, onde ela dizia, “as situações, as coisas das quais tenho vontade de reclamar, é um campo aberto para eu atuar”. E assim, trabalhar com responsabilidade social se tornou a base de ação de todos os meus passos na vida.
Sem dúvidas, esse direcionamento harmônico desenhou a minha personalidade baseada em vivências de liberdade. Se minha mãe não me desse a liberdade de fazer amigos, onde quer que eles estivessem, eu não saberia que existem milhões de pessoas que precisam uma das outras, em lugares diferentes.
Liberdade? Sim. Ela compõe muito do meu caráter, dos patamares alcançáveis e de como é enxergar o mundo com os próprios olhos – sem construções pré-estabelecidas. É a forma de criar possibilidades, de explorar defeitos, qualidades e frustrações. Isso mesmo. FRUSTRAÇÕES! Você já pensou sobre os seus picos de frustrações? Talvez naquela tenra infância, eu tenho tido contato com a minha primeira frustração.
Quero falar aqui de uma outra frustração. Acredito que quando alguém vive um sonho que não é o dela, esse sentimento consome o corpo e desalinha a mente. Você já sentiu isso antes?
A verdade é que seu sonho nunca é irreal! Ele é construído por etapas que te levarão a alcance de realidades. Algumas pessoas (loucas, eu acho) têm o hábito estranho de dizer. “Olha, esse seu sonho é tão comum ou maluco!”.
Como assim? O sonho é SEU, somente seu. Sonhar é compreender que sonho e realização começam com o que você tem em mãos nesse exato momento. E, talvez, o que você tem agora é só o sonho mesmo. Não tem problema nisso.
Já pensou se naquele Natal eu fosse impedida de seguir o caminho do meu coração? Eu jamais teria seguido os passos que me trouxeram até aqui, inclusive o sonho de acabar com a desigualdade. Nunca desisti.
E se você está me dizendo que era um grande sonho da sua vida e você desistiu, serei direta e sem delongas. Perdoe-me por isso, mas é necessário: alguma coisa faltou na sua intenção. Pode ser autocompaixão, oportunidade, mas também pode ser falta de determinação, autodisciplina, questionamentos ou, quem sabe, falta questionar o próprio sonho. Ele é mesmo seu? Se for seu, agarre-o.
Alguma coisa está fora do eixo. Espera. Não estou dizendo que todo sonho é realizável. Também não estou te falando que todo sonho não realizado é culpa sua. Existem muitas variáveis.
Ficou confuso?
Sensacional! Me emocionei demais. A sua história me inspira, Flávia! Gratidão por compartilhar e por me provocar tanta reflexão.
obrigada querida. Você sempre parceira
Flávia Lippi
Belíssimas palavras para nos levar à reflexão de nossas intenções de só sonhar ou de realizar nossos sonhos!
Gratidão imensa1
Flávia Lippi
Belíssimas palavras para nos levar à reflexão de nossas intenções de só sonhar ou de realizar nossos sonhos!
Gratidão imensa!
obrigada pelo incentivo