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O que a polarização pode fazer comigo
- 8 de abril de 2020
- Por: Flávia Lippi
- Categoria: Vida pessoal
Olá, você.
Alguns de vocês já sabem que sou pesquisadora.
Minha última pesquisa durou um ano, acompanhando profissionais que trabalham em Digital (marketing digital, mídia e outros da área).
A pesquisa é sobre saúde mental, emocional e comportamental nas redes sociais.
A outra parte dessa pesquisa já foi publicada e, inclusive, participei de uma mesa no YouPIX do ano passado divulgando exatamente esses resultados. Mais de 70% dos profissionais sofre de algum desafio mental. Depressão, ansiedade, pânico ou burnout.
Em minha pesquisa atual, estou elaborando o perfil dos haters e sua saúde mental, incluindo fake news e suas consequências para a paz.
E pesquisador é assim, faz experimento, né? No domingo, publiquei aleatoriamente durante todo o dia 15 posts que eram apenas “compartilhados”, sem nenhuma opinião minha. Atenção a esse último detalhe. Eu, em nenhum momento, dizia se concordava ou descordava. Mesmo tema, com opiniões opostas.
Os temas escolhidos foram: religião, política e Greta. Claro que para fazer uma boa pesquisa leva pelo menos um ano, e para fazer uma pesquisa completa, três anos, mas vou te contar o balanço de ontem.
- Os haters foram exclusivamente do gênero masculino – fui agredida de muitas formas, com nomes e muita demonstração de ódio.
- Fui defendida pelo gênero masculino e feminino.
- Os mesmos haters se manifestaram agressivamente em compartilhamentos opostos. Ao fazer a pesquisa, tomamos o cuidado de colocar sempre o mesmo assunto com ideias opostas. Portanto, eles odeiam porque odeiam.
- De uma forma geral, eram brancos, entre 25 e 70 anos, com escolaridade média para cima.
Não tenho conclusão ainda, mas uma sugestão. Observem o caminho que a polarização está tomando.
Para minha conclusão da pesquisa, uma grande parte do estudo é sobre política internacional, militância política, redes sociais, incluindo WhatsApp e Telegram, e fake news e suas consequências na saúde mental, emocional e comportamental.
Uma das grandes estudiosas em estudos para a paz, violência e violência secundária, Lisa Schirch, prova que a militância política polarizada aceita a violência secundária e traz violência para o primeiro plano.
A violência secundária aplicada é feita para gerar reação imediata e estruturalmente atua na construção de pátrias violentas.
Inclusive, vocês viram isso na prática.
O que é conter e o que é produzir violência?
Estou contando para vocês o que estudos profundos sobre a paz trazem sobre a violência. O que me aconteceu pessoalmente foi um profundo trabalho interno para reconhecer os grupos que pertenço, como se manifestam e como geram a violência secundária.
Me afastei de onde não conseguia, de alguma maneira, perceber o desejo de mediação de conflito e desejo pela paz. Não há mediação onde o desejo é esconder entre palavras supostamente engraçadas a construção da violência.
Aos poucos, fui me aproximando de conflitos que geram o amadurecimento e me afastando da violência que gera a segregação.
Processos comunitários dialógicos conseguem produzir a paz e, assim, a dimensão humana é reconstruída.
A paz é um fio delicado que tece a trama de relações e nos tece como seres diversos e capazes de criar vínculos de compaixão.
Os convido a tecer uma vida que, em suas linhas sutis, vá substituindo palavras bélicas por compaixão.