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Objetivos da psicanálise
- 20 de maio de 2018
- Por: Flávia Lippi
- Categoria: Trecho de Livros
Por mais surpreendente que seja, para mim também é dificil tomar parte dessa exumação de emoções e memórias dolorosas já sepultadas. Como posso justificar a retirada de dados do inconsciente, elementos que às vezes o paciente trabalhou a vida toda para ocultar, não apenas do mundo exterior, mas de si próprio? Se estava escondido, havia, sem dúvida, uma boa razão para isso. Como me atrevo a desenterrar, a mexer em algo que talvez seja a causa de grande sofrimento, levando-o para a consciência? Além do mais, se o passado não pode ser mudado, então qual a finalidade disso? Fazer que chegue à consciência. Mas é, também, bem mais que isso.
A criança que vive no adulto, a criança que sepultou seu passado traumático, revive esse fato várias vezes, tentando inconscientemente dominar aqueles eventos incontroláveis. A finalidade, portanto, é facilitar a mudança, ajudar a criança indefesa a se tornar o adulto livre, com o controle da própria vida. Com consciência e memória, esses eventos podem ser encarados de modo diferente.
E mudança e consciência estão intrinsecamente ligadas. Mas aqui reside a arte e a ciência da psicoterapia — e, sim, ela é uma arte. Para explorar os eventos, tenho de ter certeza que minha relação com o paciente é de plena confiança e suficientemente sólida. A escolha do momento é fundamental. Um dos objetivos da psicanálise é tornar consciente o que está inconsciente. Mas isto é algo que só deve ser levado adiante se houver uma sólida conexão, pois fere o paciente e, às vezes, até o terapeuta. Já que é assim, então não é melhor deixar como está? Alguns indivíduos podem dizer que sim. E alguns disseram sim — e fugiram da terapia. Estavam no seu direito. Não cabe a mim julgar se alguém deve ou não se submeter à terapia.
Trecho do Livro O ciclo da auto sabotagem de Stanley Rosner e Patricia Hermes
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