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Excesso
- 13 de novembro de 2016
- Por: Flávia Lippi
- Categoria: Relacionamentos Vida pessoal
Quando fui morar sozinha, há muitos anos, dentre minhas responsabilidades, surgiu a possibilidade de cuidar das plantinhas de casa. Eram poucas, mas variadas. Existiam no lugar flores, arbustos, árvores, leguminosas, verdes… Pensei, elas devem ser molhadas. Passei então a cumprir um ritual de “molhação”. Molhava as plantinhas três vezes ao dia por medo de matá-las de sede.
De repente, comecei a notar que as plantas estavam meladas, amareladas, feias, à beira da morte. Fui salva por minha mãe que é uma excelente paisagista. Sabe a gota certa de cada espécie.
E foi assim, naquele momento, que me dei conta da vida. Comecei a descobrir que o excesso também mata.
Descobri que a vida é feita de medidas certas. Quando se tem boa intenção, mas excesso de ação, muitas vezes se mata aos poucos. No amor, descobri que se ama de forma gradual. O outro é sempre a boa medida. Se está muito intenso o outro pode se sentir pressionado, se está muito vago o outro pode se sentir largado. A medida do amor, é aquela que sutilmente fornecemos o pouco e o muito do vai e vem da vida.
No trabalho fui descobrindo que aos poucos o espaço se abria.
Chutar a porta não abria o caminho necessariamente e bater à porta nem sempre surtia efeito, esperar que ela se abrisse também não era a solução. Comecei a prestar atenção nos momentos que deveria falar e ouvir quem adentrava as tais portas e a descobrir que o caminho muitas vezes estava na caminhada diária dos corredores.
As portas se abriam depois de uma caminhada bem-sucedida, uma conversa na hora certa, um trabalho bem feito no momento necessário. Descobri que haviam janelas, que também haviam espaços vagos e que haviam também pessoas variadas. O alvo passava por vários caminhos. A medida do trabalho é aquela que variadamente nos faz e desfaz cada vez que a vida nos obriga.
Fui descobrindo que existiam as medidas da amizade, assim como no amor e no trabalho. Os amigos são amigos na medida que também o somos sem excesso ou falta de companheirismo.
A vida foi me descobrindo, nos meus excessos e faltas e eu descobrindo os caminhos da vida em seus excessos e faltas.
Hoje tenho um jardim lindo com uma variedade enorme de espécies e ainda hoje cumpro meu ritual de “molhação”, mas agora prestando atenção nos cuidados especiais que cada uma pede.
Os excessos ainda acontecem, mas ainda me falta um longo caminho pela frente, não uma justificativa, mas um consolo de pensar que ainda tenho tempo de encontrar o total equilíbrio entre o muito e o pouco que a vida me produz.
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*Texto postado no meu antigo blog em 27/11/2007.