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Comportamentos repetitivos
- 11 de agosto de 2017
- Por: Flávia Lippi
- Categoria: Trecho de Livros
É um fim de tarde de fevereiro e estou esperando, do lado de fora de um hotel em Toronto, um táxi para me conduzir ao aeroporto. Acabei de participar de uma conferência da American Psychological Association [Associação Americana de Psicologia], e, como psicoterapeuta com experiência clínica, minha mente está animadamente ocupada, refletindo sobre as ideias que foram discutidas, novas interpretações do que torna o indivíduo um ser admiravelmente complexo e interessante. Mas apesar de minha preocupação profissional, ou talvez por causa dela, não consigo deixar de prestar atenção no encarregado da portaria. Um tipo animado, ele abre e fecha a porta do hotel para clientes; abre e fecha a porta sorrindo e dizendo algo para cada um que passa por ali. Eu o observo nesta tarefa repetitiva, e fico pensando como ele consegue permanecer tão bem disposto. Em um rápido intervalo, ele vem até a calçada e começamos a conversar. Depois de conseguir um táxi para mim, disse num tom confidencial: “Eu me pergunto como esses motoristas conseguem. A mesma coisa, dia após dia: dirigir até o aeroporto e voltar, até o aeroporto e voltar. Isto me deixaria louco.”
Sorrimos um para o outro, um sinal de camaradagem, de concordância. Mas estou pensando que reparar no outro aquilo que não conseguimos perceber em nós mesmos é algo bem comum, como se fizesse parte da natureza humana — pelo menos é isso que observo no trabalho com pacientes. E, geralmente, quando chegamos a esse mesmo ponto — comportamentos repetitivos. O que vemos no outro com tanta clareza oculta-se de nós próprios. Por que isso acontece? Acho que por várias razões. Talvez porque nossos comportamentos repetitivos estejam enraizados, sejam instintivos. O porteiro, cujo dia gira em torno de abrir e fechar a porta, não vê nenhuma contradição em lamentar o destino do motorista de táxi que tem de fazer viagens de ida e volta ao aeroporto dia após dia porque ele não enxerga o próprio comportamento como repetitivo.
Trecho do Livro O ciclo da auto sabotagem de Stanley Rosner e Patricia Hermes
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